O 120º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, mais conhecido como Abrascão, ocorreu no período de 24 a 29 de julho, nas dependências da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Teve como tema central "Fortalecer o SUS, os direitos e a democracia". A escolha da Fiocruz para sediar o evento se deu porque é uma das instituições mais antigas da saúde pública brasileira e que honra o SUS.
O evento encerrou com um saldo de quatro dias de apresentações de trabalhos científicos e grandes debates, os quais reafirmaram o compromisso com a defesa do fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
O congresso reuniu mais de 8 mil pessoas, na sua maioria profissionais de saúde, conselheiros e gestores da saúde. Os momentos de resgate histórico durante essa semana intensa destacaram a criação do SUS, evidenciando que o processo começou antes mesmo da Constituição de 1988, por meio da luta da população envolvida nos movimentos sociais. Marco desse movimento, inclusive, foi a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986.
Para uma profissional como eu, que participou, ativamente, do movimento pela Reforma Sanitária para a criação do SUS na década de 1980, foi emocionante participar desse encontro e refletir o que avançamos e o que ainda precisamos resistir para avançar mais. O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito do Oiapoque ao Chuí. São muitos os serviços oferecidos, que, entre outras coisas, é responsável pelo financiamento de 95% dos transplantes de órgãos realizados no país.
Madel Luz foi uma das profissionais, com larga experiência na área de saúde coletiva, que esteve presente na Fiocruz, expondo que tratamentos alternativos como ioga, reiki, meditação, musicoterapia, reflexoterapia e medicina tradicional chinesa foram incluídos no SUS nos últimos tempos. No entanto, as notícias veiculadas do nosso SUS, geralmente, circulam em torno do que não dá certo: as filas, a falta de médicos e medicamentos. Sabemos dos problemas e lutamos para melhorar o sistema, mas é preciso compreender que a saúde não se resume a esses fatores. Vai muito além. Para termos saúde é fundamental uma boa alimentação, educação, moradia, transporte, lazer, entre outros. Sem esses fatores, envolvidos em nosso cotidiano, nossa saúde empobrece.
Ainda há as pessoas que pensam que o SUS é para os "pobres". Consideram, inclusive, que nunca usaram o sistema. Pois saiba que para um restaurante, um salão de beleza, uma farmácia, entre tantos outros espaços funcionarem, legalmente, é necessário a vistoria da vigilância, a qual faz parte do SUS. Entre os serviços ofertados por esse sistema público de saúde encontram-se: cirurgias reparadoras para mulheres vítimas de violência, tratamento para Hepatite C, aids, tuberculose, hanseníase entre tantos outros. Michele Bachelet, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS), ao fazer a fala de abertura do Abrascão, salientou que foi um congresso que serviu também para recarregar a energia e confirmar, para nós mesmos, e para outras pessoas, que a esperança somos nós. A líder reafirmou a necessidade de sistema público forte e que seja capaz de garantir direitos iguais a todos, destacando o aniversário de 40 anos de Alma-Ata e os avanços da Atenção Primária em todo o mundo.
O SUS é nosso! Lutemos por ele!